Procurando viabilizar o atendimento às crianças e adolescentes em situação de abrigo e oferecer um ambiente não somente acolhedor, o projeto abrigo ganha importância fundamental nas ações diárias da Instituição, pois sua abrangência passou para além da esfera da assistência social alcançando a educativa.

Em qualquer instituição de ensino e no âmbito aqui tratado numa situação de abrigo, o processo educativo apenas poderá ser vivenciado de forma autêntica quando for ao encontro das reais necessidades das crianças. Através do diálogo, sabendo ouvir suas idéias e aspirações, respeitando-as como pessoas, estimulando suas criatividades e proporcionando-lhes o processo de ação-reflexão, estarão sendo capacitados para uma compreensão crítico-construtiva de suas realidades pessoais e sociais. É a presença da educação como formadora de seres conscientes, críticos e participativos.

A proposta contida no projeto abrigo para a operacionalidade curricular no cotidiano institucional não é tarefa simples e automática, ela deve ser refletida e analisada no decorrer de todo o processo de discussão, construção e execução do projeto, considerando-se o contexto institucional em sua totalidade e em suas relações internas e externas, onde a articulação de todos os setores institucionais, bem como a participação efetiva dos atores sociais envolvidos como os funcionários, educadores, coordenadores, técnicos, pais e as próprias crianças, é de fundamental importância.

O espaço físico deve ser exposto de forma a proporcionar para as crianças locais individualizados e climatizados de acordo com o ambiente; com sala de televisão, sala de estudos, refeitório, cozinha, vestiários que respeitem a individualidade de cada um, sala de brinquedos, lembrando da importância de acessibilidade no caso de haver uma criança-adolescente com necessidades especiais.

Na ACCS, os quartos são divididos por famílias, cada grupo de irmãos mantém o seu quarto e o decora da maneira que quiser, respeitando assim a individualidade de cada um e não quebrando o vínculo dos irmãos, e sim, fortalecendo-o. Cada um tem seu espaço no armário com seus objetos de ordem pessoal e higiene além das roupas.

Partindo do princípio que é necessário proporcionar um ambiente residencial, é preciso um espaço ao ar livre, para que possam realizar brincadeiras e jogos.

Passeios externos também são fundamentais para a sociabilidade e aprendizado, nos quais poderão ser enfatizados locais como parques, museu, teatros, cinemas, praias entre outros que poderão contribuir para melhora e qualidade de vida das crianças e adolescentes. Tentamos levar as crianças semanalmente para passeios, quando eles não acontecem, é devido a algum evento que os mesmos participam dentro do espaço da Associação.

Durante o acolhimento, deve-se falar de maneira clara, objetiva e carinhosa, respeitando a idade e a personalidade de cada acolhido, apresentando-lhe as pessoas, mostrando-lhe o local como um todo, bem como onde ficarão seus pertences. É de fundamental importância a construção do vínculo de afeto e confiança com os cuidadores, educadores e todas as pessoas nas quais a criança terá acesso durante seu estado de acolhimento. Em nossa Instituição, as próprias crianças acolhidas junto a Equipe Técnica recebem as crianças novas, agindo como facilitadores desse momento tão difícil para a criança que se torna o primeiro dia/noite num abrigo. Temos a obrigação, como técnicos de amenizar esse sofrimento.

O desabrigamento é trabalhado de forma natural pela equipe Técnica e funcionários do Abrigo. As crianças, desde o acolhimento, já sabem que sairão do Abrigo assim que sua situação familiar e judicial seja resolvida. Enquanto acolhidos, as crianças levam uma vida normal, com regras e limites, com lazer, educação, saúde, atividades esportivas e tudo que uma casa oferece. O desabrigamento deve ser encarado como uma mudança de endereço e o resgate familiar irão proporcionar com tranqüilidade esse retorno para casa. A aproximação das crianças com a família é mantida e, próximo ao desabrigamento, a família já participa junto as crianças de reuniões escolares, passeios e outras atividade e eventos promovidos pela Associação. Assim, o impacto do desabrigamento é mais leve, visto que a família já está participando da realidade cotidiana da criança e/ou adolescente.

Por tratar-se de crianças-adolescentes, que na sua quase totalidade, oriundas de famílias que estão à margem do processo produtivo, não tendo acesso aos bens e serviços necessários ao suprimento de suas necessidades básicas, o projeto educacional tem seu enfoque no preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para uma possível inserção das mesmas no mercado de trabalho.

Portanto, o projeto abrigo não se restringe a simples elaboração técnica de um documento, trata-se de um processo dinâmico e coletivo construído a partir do comprometimento e participação das pessoas envolvidas no contexto institucional.

As famílias são orientadas e auxiliadas em todos os sentidos, tanto social quanto psicológico. Usamos todos os instrumentos e ações profissionais para acontecer essa manutenção do vínculo. Portanto, a Equipe Técnica foca o trabalho de resgate familiar e reintegração, além disso, já foi dito que inserimos as crianças em famílias substitutas sempre que não obtemos sucesso na reintegração da família de origem, e as preparamos para possível adoção e desligamento da Instituição.

Todas as crianças acolhidas têm atendimento multidisciplinar dispondo de acompanhamento, Psicológico, Nutricional,Jurídico, Social, Pedagógico e, também ocorrem grupos de apoio psicológico dentro da Associação, além de serem engajadas em atividades esportivas oferecidas pela comunidade.